A Degradação do homem guineense é assustadora
Lassana Cassama
Jornalista Guine Bissau
Sou guineense e, nesta qualidade, poucas situações me escaparam tanto no passado, quanto no presente. Neste país [na minha Guiné-Bissau] assisti conspirações, intrigas, perseguições, traições, sequestros, torturas, assassinatos, etc. – alguns cenários dos quais também fui vítima – mas, o que tem acontecido nos últimos tempos é profundamente preocupante e assustador. O homem guineense já não se importa com os valores ou princípios. O homem guineense tornou-se num “animal” extremamente perigoso em nome do bem-estar próprio. Todos rogam-se no direito de poder assumir qualquer cargo no Estado, mesmo sabendo [o próprio] que não tem competências, instruções ou preparação para tal. Bom, o problema aqui não se resume apenas a quem é nomeado, mas quem nomeia quem. É a tal vulgarização e impreparação das pessoas que indicam e que são indicadas para os cargos públicos, uma situação que temos vindo a alertar há muito tempo. Temos banalizado a função do Estado ao ponto de ignorar, por completo, o básico: o PERFIL de quem deve ser a nossa dianteira. E, justamente, sobre este particular, já experimentamos o tal paladar e estamos ainda a experimenta-lo. Hoje, o país está a ferro e fogo, por conta das nossas próprias opções em legitimar e dar respaldo às pessoas que praticam atos transgressivos às normas sociais e legais. Estamos tão presos – sinal e prova do Síndrome de Estocolmo – ao ponto de idolatrar os nossos próprios carrascos, que nos têm tirado a paz, o amor e a convivência social que sempre nos caracterizou, enquanto um povo com diferentes religiões, etnias e classes sociais.
A política é uma ciência e para o bem. Em consequência, a governação é feita de visão, estratégia e planificação. Daí que o improviso, o impulso e a emoção não se alinham com uma boa governação. Porém, infelizmente, na minha Guiné-Bissau, a política e a governação tornaram-se no ninho privilegiado para os delinquentes, incompetentes, preguiçosos e arruaceiros. Os considerados "Matchus", quando, na verdade, são ladrões.
Em face desta realidade – que nos envergonha – algo tem de ser feito. A sociedade precisa ser sensibilizada e mobilizada para censurar, de forma incisiva, gente que só consegue navegar nestas águas turvas à margem das regras. Os chamados “ESTRATEGAS E MINISTROS DE TRANSIÇÂO”. São pessoas desprezíveis e, por isso, devem ser renegadas e não premiadas pela sociedade. Pois, seria a única forma de as desmobilizar, deixando o país RESPIRAR um pouco. É...o país precisa RESPIRAR.
Aveiro, 30 de novembro de 2025
LC