𝗢 𝗞𝗲𝘁𝗰𝗵𝘂𝗽 𝗲 𝗼 𝟯𝟭 𝗱𝗮 𝗦𝗲𝗹𝗲çã𝗼 𝗡𝗮𝗰𝗶𝗼𝗻𝗮𝗹
À partida, "𝘬𝘦𝘵𝘤𝘩𝘶𝘱" e "𝘵𝘳𝘪𝘯𝘵𝘢 𝘦 𝘶𝘮" não fazem parte do mesmo campo semântico. Mas no campo do jogo podem associar-se, perfeitamente.
Cristiano Ronaldo é o responsável por ter feito saltar o famoso molho vermelho da área da culinária para o jargão do futebol. Estava-se nas vésperas do início do Mundial 2010. A seleção portuguesa estagiava em Magaliesburg, uma pequena vila situada na região norte da África do Sul, país sede dessa até agora única Copa do Mundo realizada no nosso continente.
O CR7 passava por uma invulgar seca de golos na sua seleção. Naturalmente, era um dos “casos” que animava a imprensa destacada para cobrir os passos de Portugal na África do Sul. E quando, às véspera do jogo com a Cote d’Ivoire, lhe perguntaram sobre os longos 16 meses de jejum ele atirou: “𝘕ã𝘰 𝘦𝘴𝘵𝘰𝘶 𝘯𝘢𝘥𝘢 𝘱𝘳𝘦𝘰𝘤𝘶𝘱𝘢𝘥𝘰. 𝘖𝘴 𝘨𝘰𝘭𝘰𝘴 𝘴ã𝘰 𝘤𝘰𝘮𝘰 𝘬𝘦𝘵𝘤𝘩𝘶𝘱: 𝘲𝘶𝘢𝘯𝘥𝘰 𝘢𝘱𝘢��𝘦𝘤𝘦𝘮, é 𝘵𝘶𝘥𝘰 𝘥𝘦 𝘶𝘮𝘢 𝘷𝘦𝘻”
Pronto, a coisa pegou! Hoje é mais um clichê do futebolês e eis-me aqui, também, a besuntar de ketchup este Jogo d’Palavra. Tudo por causa da goleadora da nossa seleção feminina de futebol, a Ivânia Moreira “Vá”.
“𝘋𝘪 𝘛𝘹𝘢𝘥𝘢 𝘗𝘰𝘯𝘵𝘢 𝘱𝘢 𝘔𝘶𝘯𝘥𝘶”! É sempre assim que as colegas se dirigem à Vá cada vez que ela faz um golo. Começou a ser assim nos tempos em que desceu da sua aldeia piscatória, no concelho de Santa Cruz, para dar cartas no Seven Stars da Praia. E agora que joga e se destaca fora do país, o slogan ganha mais sentido.
Vá é um caso sério em matéria de golos (e há ano e meio já tinha escrito sobre isso aqui https://www.facebook.com/photo/?fbid=6724015884303044&set=a.113315002039865). Por isso, não demorou a ser chamada à seleção nacional quando ia somando números incríveis de golos no campeonato regional de Santiago Sul.
Habituada a marcar com muita facilidade, Vá demorou a fazer o primeiro na seleção. Até janeiro de 2023, a avançada não tinha qualquer golo com a camisola de Cabo Verde. E nos últimos dois anos marca… 10! É, de longe, a melhor marcadora, com o dobro da segunda melhor, a Evy.
Afinal, o gajo da Madeira tinha razão: “Os golos são como ketchup: quando aparecem, é tudo de uma vez”.
Ontem, nas bancadas do Estádio Nacional, Vá tinha bom pedaço da Achada Ponta a vê-la jogar. Entre eles, pai, irmãos, outros familiares. O progenitor trazia vestido uma camisola do Rio Ave, o novo clube da filha, para onde se transferiu há menos de um mês, proveniente do Amora. Os 11 golos em 14 jogos ao serviço da equipa da Série Sul despertaram atenção dos verdes e brancos do norte de Portugal, equipa mais cotada e que, neste momento, lidera de forma isolada o campeonato da 2ª Divisão. Vá será, com certeza, uma grande mais valia no ataque ao grande objetivo do Rio Ave que passa por chegar à divisão principal do futebol feminino português.
Se ontem frente à Guiné Conacri a Ivânia assinou o seu 10º golo ao serviço de Cabo Verde, a Evy Pereira somou cinco e é agora a segunda melhor marcadora, isolada. Dá gosto ver jogar a menina de Eugénio Lima, sobretudo quando cobra os livres e pontapés de canto. À muita técnica faz questão de acrescentar grandes doses de elegância. E eficácia, já agora! Tudo somado fica delicioso (nem precisa de ketchup).
Evy encantara os amantes do futebol feminino ao serviço da EPIF, mais tarde Seven Stars. Em 2014 consegue uma transferência para Portugal, onde passa mais de uma década. O seu talento leva-a ao Benfica, depois de ter representado Atlético Ouriense e Valadares Gaia. Teve uma lesão grave e, recuperada, relançou a carreira no Braga. Em 2022 vai para o Racing Power e, no início desta temporada dá o salto para o Besiktas, da Turquia. 𝘋𝘪 𝘌𝘶𝘨é𝘯𝘪𝘰 𝘓𝘪𝘮𝘢 𝘱𝘢 𝘔𝘶𝘯𝘥𝘶 pode dizer-se, também.
O duelo desta quarta-feira com a Guiné Conacri assinalou o jogo nº 20 da seleção feminina desde que foi constituída, em novembro de 2018.
Nestes 6 anos e 3 meses de existência são 8 vitórias, 10 derrotas e 2 empates. Ao fazer o 4-1, a capitã Varsénia da Luz assinou o golo 31 da Equipa Nacional, e o terceiro da conta pessoal.
Ah, 31! Para quem está familiarizado com as lides do baralho, Trinta-e-Um é um jogo de cartas bastante popular.
Afinal, 31 e ketchup têm tudo a ver com o jogo da bola. E por agora, encaixam muito bem na seleção comandada pela dupla Nita/Gust.